quinta-feira, 21 de junho de 2012

IGREJA, O MAIS ESSENCIAL


Procede do Deus Uno e Trino e tem a sua origem radical na Pessoa do Pai pela missão conjunta do Filho e do Espírito Santo, por isso pode-se dizer que é de origem divina. Não surgiu da historia, é de instituição divina, pois provêm de uma Vontade que é anterior à história universal.

Cristo fundou a Igreja, a criou e estruturou, infundiu vitalidade e força enviando o Espírito Santo, cumprindo assim a sua própria missão; fez dessa missão tarefa dos apóstolos, enviando-lhes a prolongar no mundo a Sua obra redentora. A Trindade não está só na origem da Igreja, mas principalmente dá a ela a sua forma de ser. No tempo ela nasceu na cruz, do lado aberto de Cristo e foi plenamente iniciada, inaugurada em Pentecostes.

Ao longo da História da Igreja, com o avanço de sua autocompreensão (natureza e missão), sobretudo com o Concílio Vaticano II, pode-se dizer que a verdadeira Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica, pois a própria história evidencia a sua fundação e a sucessão ininterrupta dos apóstolos. Graças ao seu aprofundamento ela mesma é capaz de reconhecer que, embora sendo a Igreja querida e fundada por Cristo, não chegará a ser totalmente Igreja nesta terra, pelas limitações próprias da sua condição de criatura. Em outras palavras, sua existência não esgota, não cumpre de modo absoluto o que signfica ser Igreja na radicalidade semântica deste termo. Sendo assim santa por constituição divina olha para os pecados de seus filhos e por eles intercede. É ainda capaz de perceber que existem diversos elementos de santificação e de verdade para além dos seus limites visíveis, o que faz com que admita a presença e a atuação do Senhor em outras denominações religiosas. Por essa razão, ao ter clareza da sua identidade e do seu papel neste mundo, busca restabelecer a comunhão com as  religiões da humanidade e demais denominações eclesiais, porque nelas, de forma limitada, se manifesta a verdade de Cristo e a Sua Igreja, a única que possui todos os meios de salvação(a fé e os sacramentos)!

 


"Com a expressão « subsistit in », o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que « existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição »,55 isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica.56 Acerca destas, porém, deve afirmar-se que « o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica." Declaração pós conciliar DOMINUS IESUS

ELEITO PARA ELEGER


Quando tomo consciência de quem sou e de quem é Deus (Ef 1,3-12), de seu projeto de amor por mim e de tudo o que implica aceitar ou recusar esses planos, me dou conta de que sou chamado a eleger na liberdade. Fui eleito para viver em perfeita comunhão (comunicação) com o Senhor e se aceitei esse caminho, sou chamado a eleger.

Segundo a Escatologia nossa trajetória terrena é o tempo da elaboração do nosso “sim” ou “não” pessoal a Deus. Quer Deus que essa seja uma história de salvação e que tudo acabe em festa no final! Nessa linha é possível dizer que na hora da morte se sabe que escolha foi feita por parte de cada indivíduo. Assim também afirma a respeito dos condenados ao inferno, que terão para sempre consciência do que escolheram para si, do que lhes afastou de Deus.

Ao tentar vislumbrar (ainda que de modo limitado, porém verdadeiro) as realidades definitivas que pode ter a minha vida caio na conta de que o tempo de hoje é uma oportunidade, um presente, um tempo favorável: tempo de graça e de paciência, onde o Senhor espera, me aguarda, a mim e a cada um em particular. Onde eu preciso aprender a esperar também, a mais uma vez exercer paciência. Tempo de respirar, de tentar de novo, de tomar novo alento, descansar, para em seguida pôr-me a trabalhar pela própria conquista, que não é só minha!

Se existe uma real possibilidade de construção autônoma da própria vida, tal como se prega desde a modernidade, esta não se dá sem o auxílio da graça e não é realidade senão enquanto não assume a forma de um construir possibilidades de manter-se no caminho. De fazer todo o possível para seguir em frente no caminho do Bem que me foi concedido. Construir aqui é, então, criar reais chances de permanecer, é manter-me de pé e ativo. Aqui se entende que a liberdade é a escolha consciente do Bem Absoluto, é escolher a melhor parte, não uma condenação como afirmaram aqueles que sentem náuseas só de pensar que têm que ser responsáveis.

Se isso não se faz sem muito treinamento (oração e ascese), é mais correto e completo dizer que: isso não se faz senão por Amor.

MEU SENHOR JESUS CRISTO! COMO CHEGAR A ESTA AFIRMAÇÃO?



Sou capaz de chegar vendo o ser humano não somente a partir das suas dimensões parciais (alguém que trabalha, que joga, que sofre, que se angustia, que se relaciona), mas desde uma visão mais profunda. Quando o entendo como um ser capaz de se autotranscender, de superar-se apoiado em um fundamento maior que dá sentido ao seu existir, a todas as suas ações, ao espaço que ocupa no mundo...

Quando admito que o conhecimento humano é objetivo e válido, e, que o mundo exterior existe. Este passo abre campo para que admita certos tipos de conhecimento que vão além do empírico (do que é evidente e demonstrável pelas ciências exatas) e assim posso receber argumentos racionais que são plausíveis e que apontam a realidades que eu não decifro nem domino completamente, mas que posso fazer experiência. Dessa forma sou capaz de admitir que não tenho um conhecimento absoluto e que, no entanto, é concreto, por exemplo o saber que me proporciona a fé. Esta ao ser cultivada alarga minha capacidade de conhecer. Só assim eu posso “largar-me” em Alguém maior, movido pela minha própria vontade, confirmado pela minha racionalidade e auxiliado desde o momento inicial e ao longo de todas as etapas deste processo investigativo pela graça divina, pois existe uma credibilidade na proposta do Evangelho que eu posso reconhecer como plausível. Até porque neste tipo de processo de investigação atua com muita influência a inteligência emocional, onde as motivações do indivíduo tem um papel definitivo. Depois de alguns degraus subidos concluo que aceitar o mistério é a atitude mais racional, mais inteligente!


Ao saber que Deus não é um problema que só possa ser resolvido por meio de teorias ou de decisões práticas, mas é uma realidade-solução e não um impedimento ao meu desenvolvimento. É, ao contrário, motivo maior pelo qual eu consigo crescer em humanidade, em profissionalismo, em verdade. Assim, não é necessário decretar a Sua morte para que eu tenha espaço para existir, pois Ele morreu em atitude de liberdade precisamente para isso... e em seguida ressuscitou; de modo que eu não posso pretender declarar o fim da Sua vida por puro capricho, pois nela eu encontro a minha...

VONTADE DE DEUS, MEU PARAÍSO



Se queres, eu quero!
Se chamas , eu vou! 
És a vida da minha vida
É em Ti que eu sou 
(Vontade de Deus – Comunidade Doce Mãe de Deus)



Lembro-me bem da primeira vez em que vi essa expressão, escrita no status de uma dessas redes sociais no perfil de um amigo. Chamou-me a atenção o caráter forte da frase, pois ela parecia me desafiar, instigar, a ponto de ter marcado toda a minha juventude com um forte questionamento interior: Onde está a vontade de Deus para minha vida? Como encontrá-la e, encontrando-a, saber que a estou cumprindo?

Por muito tempo acreditei que tal busca só poderia me render angústia e desagrado, pois não poucos de nós escutamos ao longo de toda a caminhada uma frase que mais nos inspira medo e reserva do que consolo e entrega: “A vontade de Deus não é igual à vontade dos homens!”. Soa quase como uma sentença irrevogável aos nossos ouvidos essa afirmação, e se não soubermos entendê-la com um pouco mais de profundidade, pode tirar de nós a fé num Deus providente e misericordioso que espera e deseja sempre o melhor para seus filhos, e pode nos contaminar com a visão de um Deus cruel e distante, que deseja tão somente esmigalhar a vontade humana sob a Sua, fazendo do homem, um fantoche de Seus fatais desígnios, aos quais não é possível senão a aderência e aceitação inconteste. Nada mais falso e divergente da fé cristã.

É importante que, antes de qualquer questionamento acerca dos desígnios e vontades do Senhor para nós, lancemos um olhar sobre a natureza humana e sua constante sede por algo a que não sabe dar nome, mas que foi muito bem expresso por Santo Agostinho em suas Confissões: “Fecisti nos ad Te, Domine, et inquietum est cor nostrum donec requiescat in Te” – (Fizeste-nos, Senhor, para Vós, e o nosso coração está inquieto até que repouse em Vós). Do mesmo modo, a teologia mística de Santa Teresa D’Ávila, doutora da Igreja, identifica no Livro dos Cânticos, no capítulo I, o anseio da alma seduzida por Deus, que deseja ardentemente o encontro com seu Amado: “Beija-me com os beijos de tua boca!”, diz a amada ao seu amado. Numa belíssima interpretação, Santa Teresa nos conduz ao entendimento de que os “beijos” do Amado não podem ser outra coisa senão o Espírito do Criador que sai de “Sua boca”, assim como aquele Ruah (sopro, hálito) foi soprado nas narinas do homem, conferindo-lhe a vida (Gen. 2, 7). Num fascinante paralelo a essa passagem, temos a passagem do Evangelho de São João, capítulo 20, versos 21 e 22, no qual o próprio Jesus age desse mesmo modo, caracterizando a criação de um “novo discipulado”, se assim podemos chamar, soprando sobre os apóstolos o Espírito Santo, dando nova vida a suas almas, que estavam abatidas e torporizadas pelos últimos acontecimentos. "És a vida da minha vida!" Quando Jesus sopra o Espírito sobre eles, está então conferindo uma plenitude, um ressourcement, uma vivificação daquilo que deveria ser o elã vital de seus corações. O Espírito Santo é a Vida que irrompe no coração dos apóstolos para fazer com que neles floresçam novamente o vigor e o brio apostólicos, a vida nova conquistada por Cristo, ressuscitada e plena.

Assim, por meio de todo esse primeiro nível de reflexão, percebemos duas coisas singulares: o coração humano, ainda que não saiba ou muitas vezes não aceite, é um coração que anseia por Deus em sua essência, que busca de modo inato a sua completude naquilo que é eterno, e, portanto, em Deus; e somente Deus, como Criador e Princípio e Fim de todas as coisas, tem em si a possibilidade de conferir ao homem uma verdadeira vida, na plena acepção da palavra. Não somente um passar de tempo recheado de atividades, mas uma vida recheada de sentido e significado, vida plenamente realizada em todas as suas potencialidades, tal qual é a busca natural do ser humano. Desse modo fica perfeitamente visível que o anseio do coração do homem está naturalmente orientado para Deus, que se permite encontrar pelo ser humano e é o único capaz de dar significado à existência humana. Tal afirmação a Santa Igreja reza no Símbolo Niceno-Constantinopolitano, quando diz: “(…) Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus (…). Por Ele todas as coisas foram feitas, e por nós homens, e para nossa salvação, desceu dos céus (…)”.

Avançando em nossa compreensão do mistério da Vontade de Deus para nossa história, começamos então a perceber que nossa reflexão somente pode tomar consistência se entendermos que a vontade de Deus não é outra senão o pleno amadurecimento humano e espiritual do homem, e para isso Deus não cessa de atraí-lo para seus desígnios, não cessa de nos buscar, nos seduzir, como diz o livro do profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jer. 20, 7). Ele age porque sabe que a realização do homem está justamente em, encontrando-se em Deus, realizar o querer divino em sua vida, não como um fantoche que é manipulado e arrastado para algo de que não possa escapar, mas com autonomia de sua vontade e plena opção pelo querer de Deus em si. Conformar-se à vontade divina torna-se então um constante progredir na Graça de Deus e no amadurecimento humano, pois ambas as dimensões do homem, a espiritual e humana, embora possam ser caracterizadas distintamente, não estão dissociadas uma da outra. Amadurecer enquanto ser humano é amadurecer na Graça Divina, assim como crescer espiritualmente é também desenvolver a própria humanidade. Aqui cabe ressaltar um ponto importante que, talvez por vício ou falta de uma adequada formação a respeito, soa como uma verdade autenticamente cristã, quando não o é, na verdade, que é o fato de dizermos: “O meu humano não aceita isso!”. É preciso que entendamos que não há no homem a dicotomia humano/espiritual enquanto ser, mas as duas dimensões integram-se totalmente. Não temos duas naturezas habitando a mesma pessoa, como há em Cristo (a chamada União Hipostática), mas somente uma natureza, a humana, que traz em si também uma dimensão espiritual. O que de fato pode acontecer é estarmos mais ou menos abertos a sentimentos vindos da nossa espiritualidade, de nossa relação com Deus, mas sempre dentro da natureza humana, que tendo sido assumida por Cristo, foi elevada em dignidade.

A partir disso podemos então entender de modo mais profundo os versos da canção que iniciavam a nossa reflexão: “Se queres, eu quero; se chamas, eu vou. És a vida da minha vida, é em Ti que eu sou”. Não se pode, portanto, conceber o homem como um ser completo se ele estiver longe da vontade de Deus, do querer do seu Criador. Se pensarmos que o inventor de uma determinada máquina é o único que, primordialmente, sabe o porquê da existência daquela máquina e para qual tipo de atividade ela serve ou não, entendemos também, ao menos de mono análogo e não essencial, que isto se dá conosco.

A frase a qual já mencionamos aqui, de que o querer divino é completamente diferente do querer humano, pode ser entendida de um modo mais brando se pensarmos que Deus sabe o desejo mais profundo de nosso coração, sabe qual o caminho para que alcancemos nossa plena realização. E isto muitas vezes está mesmo oculto aos nossos olhos, que são o tempo todo atraídos para as margens do que é verdadeiramente essencial. Nossas vontades viciadas, nossos caprichos naturais, ainda que não percebamos, tendem na maioria das vezes a nos afastar da vontade de Deus e, consequentemente, de nós mesmos. Por isso negar a voz de Deus em nós nos causa uma angústia profunda, pois é como descolar nosso interior de nós mesmos. Quanto mais caminhamos para longe dessa vontade, tanto mais nos descolamos daquilo que somos e menos sentido têm todas as coisas em torno a nós. É como querer constantemente adormecer para viver a beleza dos sonhos que temos, mas que não preenchem substancialmente o nosso dia a dia.

Ouvi certa vez uma frase muito intensa, cujo autor não me vem à memória, na qual ele dizia que a alma humana, quando não busca a realização da vontade divina torna-se uma alma amputada, deslocada de seu centro. Retomando o verso da canção, entendemos que o trecho: “(…) É em Ti que eu sou” exprime de forma poética o que o autor da frase quis dizer. Somente em Deus é que o homem pode, de fato, SER. Ser o que é, realizar-se enquanto pessoa, desenvolver suas potencialidades.

Com o passar do tempo, percebemos que buscar a vontade de Deus é buscar nossa plena realização, e que Deus deseja para nós aquilo que está inscrito no mais íntimo de nosso coração e que nós mesmos, durante muito tempo, não tínhamos maturidade para enxergar. Deus, ao chamar o homem à participação de sua vida divina, chama-o à plena realização daquilo que ele é como filho de Deus, em Jesus Cristo. Este chamado não é para outra coisa, senão para realizar o homem nessa sua identidade filial, a qual herdamos pela Graça. Deus nos chama, nos provoca, nos VOCACIONA à mais alta estatura daquilo que podemos ser somente por Sua Graça. Negar-se, portanto, a viver este chamado, é negar-se a viver a plenitude da Graça de Deus que a nós é destinada de modo particular.

Podemos então ir chegando ao final de nossa reflexão dirigindo um novo olhar para o mistério da vontade de Deus que se cumpre no gênero humano, através de uma emblemática passagem do livro do Êxodo, no capítulo 3. A célebre passagem da sarça ardente prefigura para nós não somente a imagem do Deus que chama o homem a aderir aos seus desígnios, mas a este chamado corresponde uma responsabilidade nossa em responder com um SIM total e irreversível. Nesta passagem, não somente a figura do profeta Moisés é um sinal e referência importantíssimos para nós de como responder à vontade de Deus, mas acredito que nos passe despercebido outra prefiguração majestosa do que viria a se dar no Novo Testamento. Vemos a figura da sarça, que é usada por Deus para se manifestar a Moisés e revelar sua vontade. Uma sarça da qual tantas vezes já ouvimos falar, que não é mais do que um arbusto pobre, mas no qual arde uma chama que não a consome, mas a abrasa interiormente. Deus utiliza-se totalmente daquela sarça, toma-a por inteiro. Ela torna-se então lugar privilegiado em que Deus não somente age, mas em que Deus É por excelência o principio da vida. À sarça ardente do Sinai podemos associar de modo admirável a figura da Virgem Maria, que, tendo-se entregue de todo aos planos de Deus, tornou-se receptáculo do mistério de Deus por antonomásia. Em nenhum outro local, em nenhuma outra criatura a vontade do Criador foi tão plenamente cumprida quanto na vida da Santíssima Virgem. Ela, em total entrega ao Senhor, foi usada permanecendo incólume e incorrupta. E tal situação é para nós mais um singular exemplo do quão necessário é para nós esta total entrega, pois Deus é o único que nos usa e não nos corrompe, mas torna-nos plenamente aquilo que somos. Podemos entender também que o contrário é verdade, pois quanto mais nos guardamos de Deus, quanto mais nos reservamos e nos entregamos sem totalidade a Deus, tanto mais nos fragmentamos e nos distanciamos de nossa verdadeira identidade e nos escravizamos continuamente.

Tomemos como exemplo a vida de tantos que se entregaram a esta vontade perfeitíssima, e fizeram de suas vidas um autêntico sinal de que não há melhor lugar para se estar do que a vontade de Deus: São Francisco de Assis, Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, São Domingos Sávio, São Tarcísio, em nossos tempos a beata Chiara Luce Badano, Beato Pier Giorgio Frassati, São Padre Pio de Pietrelcina e tantos outros grandes santos dos quais apenas Deus conhece o nome. Tornemos verdade a força do Evangelho em nossa vida e permitamos que nossa história seja a concretização da frase que diz: “É na entrega da sua vida por amor que você experimentará a verdadeira liberdade.”


Que nosso grande Deus e Senhor Jesus Cristo nos abençoe e faça brilhar sobre nós o esplendor de Sua Face Gloriosa.

por Roberto Amorim (http://imortaljuventude.com.br)

A DINÂMICA DA PALAVRA DIVINA



A palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas. Ele falou e toda a terra foi criada, ele ordenou e as coisas todas existiram.Sl 32,2

"Disse Deus (...) e assim se fez", a partir dessas expressões bíblicas a reflexão teológica desenvolveu todo um estudo para entender e nos dar a conhecer, pelo menos em parte, sobre como atua e se manifesta a Palavra divina, expressa em hebraico pelo termo “dabar” (palavra, fala, discurso, coisa, mandamento, ação, evento, história, relato), que justamente conjuga ação e palavra, alternando entre aquilo que é realizado e o relato daquilo que é feito. No contexto profético a Palavra do Senhor “dabar YHWH” ou em grego “lógos kyríou”, significa mais do que palavra falada, assemelhando-se a um acontecimento, ou seja, palavra em ação. Daí que se considera a Palavra do Senhor como Palavra dinâmica e criadora, Palavra que é mandato e instrução eficaz. Palavra operativa que se atualiza na alma e na história humana realizando por obra do Espírito Santo todas as coisas.


Com os estudos da filosofia da linguagem a partir da Idade Moderna chegou-se à compreensão de que a simples palavra humana vai além da mera locução, ou seja, não somente diz algo, mas também expressa quem disse e interpela quem escuta. Assim, quando prestamos atenção às funções da Palavra humana compreendemos melhor e com mais profundidade o alcance da ação da Palavra divina em nossas vidas. De fato, esse é um dos caminhos para se dar a conhecer a Palavra de Deus com uma outra dinâmica de catequese. A Palavra divina, expressa pelo termo “dabar”, tem a dupla função de proclamar as obras de Deus e explicar o mistério destas mesmas obras, muitas delas narradas na bíblia. Pois bem, ao considerar que a simples palavra humana é capaz de causar um impacto no coração daquele que ouve não se torna difícil elevar um pouco o pensamento e tentar dimensionar o quanto não realiza em nós ao nos interpelar a cada celebração litúrgica, a cada Santa Missa a Palavra divina. Ali, naquela ação real e eficaz onde somos constituídos em verdadeiros Templos, em autênticos Lugares teológicos da Palavra do Senhor, somos interpelados. Mais do que chamar a nossa atenção, a Palavra apela ao nosso coração, nos convida, reclama espaço, pede passagem, nos exorta, cria vínculo conosco, nos compromete, reclama uma resposta fruto de uma adesão livre da nossa parte, ou seja, incentiva e ao mesmo tempo espera o nosso “sim”. Sem sombra de dúvida é na liturgia que a Palavra de Deus se faz carne e habita entre nós, já no ambão, no momento da proclamação das leituras e do Evangelho. Nesta hora, que é parte de um todo celebrativo intimamente conectado aos demais “momentos”, sendo assim uma só coisa, Deus atualiza a sua Palavra no nosso hoje e nos faz participantes do seu mistério de Amor; nos diviniza, nos eleva pela graça a participar da sua natureza, da sua intimidade, dos frutos dos seus mistérios e ali opera pouco a pouco a cura da nossa liberdade ferida e sempre tão necessitada de Amor.



Esta Palavra divina é o próprio Jesus, Verbo Eterno do Pai, única Palavra pronunciada da boca de Deus, através da qual e na qual o Senhor pronunciou o nosso nome pra sempre chamando-nos, a nós e a toda a criação, à existência. Esta Palavra entrou na nossa história e se deixou expressar tão humildemente pelos limites da nossa linguagem, pois quis falar a nossa linguagem, para que fossemos testemunhas e transmissores destas mesmas palavras. É ele mesmo que com as Suas próprias palavras, no Evangelho, nos convida a estar com Ele retirados um pouco à parte, para então, servi-Lo.